sexta-feira, 24 de junho de 2011

CRIAR & RECRIAR


A Aceleração do Tempo


O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos.

Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio.... você começará a perder a noção do tempo...

Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea.

Isso acontece porque a nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objectos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol.

Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar:

O nosso cérebro é extremamente optimizado.

Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho.

Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia.

Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade.

Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo.

É quando você se sente mais vivo.

Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando as suas reacções no modo automático e "apagando" as experiências duplicadas.

Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente.

Quando começamos a conduzir automóveis, tudo parece muito complicado, a nossa atenção parece ser requisitada ao máximo.

Então, um dia conduzimos trocando de velocidade, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao telemóvel ao mesmo tempo.

Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual velocidade trocar (ele simplesmente pega nas suas experiências passadas e usa, em vez de repetir realmente a experiência).

Ou seja, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de velocidade, leitura de placa são apagados da sua noção de passagem do tempo.

Quando você começa a repetir algo exactamente igual, a mente apaga a experiência repetida.

Conforme envelhecemos as coisas começam a repetir-se - as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações, -.... enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que o seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo.

Até que tanta coisa se repete que se torna difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.

Por outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a... ROTINA.

A rotina é essencial para a vida e optimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, o seu diário acaba por ser um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.

Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M & M (Mude e Marque).

Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registos com fotos.

Mude de paisagem, tire férias com a família…

Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais.

Visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.

Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente.

Viva momentos diferentes.

Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes.

Seja diferente.

Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos.. . em outras palavras... V-I -V-A. !!!

Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo.

E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas diferentes, o seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o... do que a maioria dos livros da vida que existem por aí.

Boa sorte nas suas experiências para expandir o seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.

CRIE, RECORTE, PINTE, RASGUE, MOLHE, DOBRE, PICOTE, INVENTE, REINVENTE...

V I V A !!!


Por Airton Luiz Mendonça (Artigo do jornal O Estado de São Paulo)


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