domingo, 19 de junho de 2011

as reticências da minha alma...


Lá fora chove.
E dos meus olhos brotam duas lágrimas,
lágrimas de solidão, desamparo.
Uma tristeza profunda invade-me o coração
como o nevoeiro que abafa toda esta cidade.
No Inverno da minha alma
relâmpagos clareiam a escuridão dos meus
pensamentos.
E lá fora o vento bate nas janelas, sinto-o uivar por entre os prédios, descendo a rua.
O meu coração chora, no meu peito sinto um aperto,
um frio percorre-me a espinha.
E por detrás da janela fofos flocos escorregam.
Começou a nevar, tudo se cobre de branco, as montanhas lá ao longe, para além
dos arranha-céus,
a rua, os telhados, os jardins.
Só o meu coração, a minha alma
continuam na escuridão.
Sinto a falta do canto dos passarinhos
do cheiro das flores, do grito alegre
das crianças no parque.
Aí sim. Aí tudo seria bonito.
O manto que me recobre a alma
esvair-se-ia em fumo.
O aperto do coração desapareceria, seria feito em mil pedaços.
Chegaria finalmente a Primavera
à minha alma...
E eu seria feliz.

Trapalhonazinha
Lisboa, 5 de Novembro de 1988

*

(O direito de autor é reconhecido independentemente de registo, depósito ou qualquer outra formalidade artigo 12.º do CDADC. Lei 16/08 de 1/4)

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